sexta-feira, 13 de maio de 2011

Graceland



Este é um daqueles grandes artistas que ficam meio esquecidos pelo público, mesmo tendo uma carreira bem sucedida e repleta de sucessos. Paul Simon é, sem dúvida, um compositor genial. Se eu fizesse uma lista dos 10 maiores compositores da música popular no universo pop/rock com certeza ele estaria lá, junto com Dylan, Lennon, McCartney e outros. Melodista notável, também escreve letras criativas, belas e profundas, talvez fruto de sua formação em literatura inglesa.

A primeira metade dos anos 80 ele passava por um certo ostracismo até gravar o fabuloso disco “Graceland” em 1986. Este, pra mim, é o melhor disco daquela década. Melhor que “Thriller” (Michael Jackson), “Joshua Tree” (U2) e “Brothers in Arm” (Dire Straits) juntos. Neste trabalho fantástico, ele mergulhou na música sul africana, gravou com artistas da África do Sul, cuja musicalidade fundiu-se perfeitamente com a sonoridade e idéias de Simon. O album foi aclamado pela crítica, recebeu vários prêmios e rendeu longo prestígio ao músico. Desde seus trabalhos em dupla com Garfunkel nos anos 60, Simon não apresentava canções tão inspiradas.

Graceland apresenta um trabalho instrumental e arranjos primorosos, e uma ousadia que acabou dando a Simon um reconhecimento como compositor de world music. Um grande destaque na sonoridade do disco é o baixo fretless de Bakhiti Kumalo, que fez poesia com seu instrumento. Solos e frases que arrebatam qualquer ouvinte que não entenda nada sobre contrabaixo. Só por isso o disco já valeria à pena. Mas há muito mais em Graceland. As guitarras são um dos pontos altos da sonoridade africana presente no álbum, juntamente com as percussões e toda a concepção rítmica. Um grande trunfo do disco foram vocais africanos, principalmente a participação do estupendo grupo vocal Ladysmith Black Mambazo em duas faixas, “Diamonds on the Sole of Her Shoes” e “Homeless”. Esta última, que é uma obra prima, acabou se tornando um hino contra o Apartheid na África do Sul.

Homeless


O disco começa apenas com acordes de acordeom seguidos por uma explosão de percussão na primeira faixa “The Boy in the Bubble”. A segunda faixa é a belíssima e grandiosa “Graceland”, que traz baixo e guitarras em destaques. “You Know what I Know” parece uma “La Bamba” africana, com um ritmo que faz qualquer um pular, e mais uma vez baixo e guitarras “saltitantes” e um exótico vocal de fundo. O disco conta com um grande hit, “You Can Call Me All”, que com seu apelo pop estourou nas rádios e ganhou um videoclip com a engraçada participação de Chevy Chase. “Under African Skies”, linda de doer, apresenta um dueto vocal de Simon e Linda Ronstatd.

You Can Call Me All


Apesar da sonoridade típica norte-americana dos anos 80, Graceland apresenta canções universais e arranjos atemporais. O fato de Simon ter buscado o diálogo cultural com a África do Sul em meados daquela década foi de uma importância que transcende a área musical. Todos os olhos se voltaram para aquele continente e sua então realidade. Não foi à toa que o álbum abocanhou todos os prêmios possíveis. Então se você ainda não ouviu, não morra sem ouvir – várias vezes – esta obra prima.

The Boy in the Bubble

2 comentários:

  1. Muito Bom Fabinho! A crítica ta muito boa, e o disco (sem diminuir sua crítica) melhor ainda! Parabéns!

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  2. Oooh, eu já ouvi muito a Paul Simon!! Influência herdada de minha mãe, desde que eu era muito pequena, mas pensei que ele tinha continuado com Garfunkel para sempre...
    Gostei muito da crítica, Fábio! Não sabia da importância social desse álbum.
    E Under African Skies é muito bonita mesmo.

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