quinta-feira, 19 de maio de 2011

Pet Sounds


Esta semana está completando 45 anos o celebrado disco “Pet Sounds” dos Beach Boys. É uma boa oportunidade para os que não conhecem conferirem esta obra antológica e a mente inquieta e musicalmente insana de Brian Wilson (de preto, com cabelo de playmobil na foto acima), o líder e grande mentor da única banda que realmente fez frente aos Beatles nos anos 60. Foi por causa disso que comprei este disco quando eu tinha 16 anos (sim, eu sou beatlemaníaco). É um álbum que rejuvenesce e fica cada vez melhor com o tempo. Aliás, é impossível falar de “Pet Sounds” sem falar dos Beatles, pois suas discografias se relacionavam intimamente naquela época.

Na década de 60 a mídia alimentava uma rivalidade Beatles x Rolling Stones. Na verdade era uma “pseudo” rivalidade, pois o som das duas bandas não se parecia, tinham diferenças musicais bem visíveis. Inclusive eles eram bem chegados e sempre se encontravam (chegaram até a participar dos discos uns dos outros). Paul McCartney chegou a dizer que seus verdadeiros rivais musicais eram de fato os Beach Boys. O quarteto inglês tinha um profundo respeito e admiração por eles e sempre esperavam com grande expectativa e “temor” o próximo lançamento da banda californiana. Paul ainda diz que sempre considerou Brian Wilson um gênio e que os discos dos Beach Boys eram o parâmetro que eles tinham para melhorar a cada disco que lançassem. O mesmo ocorria do outro lado. Os BB – sobretudo Brian - ouviam os Beatles e se estimulavam a fazer algo no mesmo nível, ou se possível, melhor. Uma banda dava suporte e inspiração à outra. Foi uma rivalidade em que o vencedor foi justamente o público.

Em dezembro de 1965 os Beatles lançaram o excelente “Rubber Soul” e começavam a alçar vôos mais altos com relação a composição, arranjos, letras, e daí começaram a mudar o conceito de álbum, que até aquele momento era concebido como um apanhado de singles e canções avulsas reunidas. Brian Wilson disse:

"Eu realmente não estava completamente pronto para a unidade. Parecia que todas (as músicas) eram juntas. Rubber Soul era uma coleção de canções que de alguma forma eram juntas como nenhum álbum já feito antes, e fiquei muito impressionado. Eu disse, É isso. Eu realmente fui desafiado a fazer um grande álbum."

Então ele pôs sua mente genial para trabalhar no “Pet Sounds”. E trabalhou sozinho mesmo. Compôs todas as músicas (maioria em parceria com o letrista Tony Ascher), com exceção de “Sloop John B” (canção tradicional), bolou os arranjos e produziu o disco. Os demais membros dos Beach Boys apenas cantaram (Brian contratou músicos de estúdio para tocar). Inclusive o próprio Brian fez a maioria dos solos vocais, o que não era comum nos seus discos. Ou seja, foi um projeto pessoal de Brian, e que se difere radicalmente dos antecessores, na concepção, no som, no espírito, no propósito. Ele queria conceber uma obra de arte... e conseguiu. O álbum foi lançado em 16 de maio de 1966.

No Pet Sounds, ouve-se pela primeira vez instrumentos nunca antes imaginados numa banda de rock. Cravo, acordeom, instrumentos orientais como o koto e outras loucuras que hoje podem não assustar ninguém, além das sempre presentes harmonias vocais, que já eram marca registrada no som deles desde o começo da carreira. Brian dirigiu e regeu tudo na cabine de gravação e o resultado foi mágica pura!! Os outros integrantes acompanhavam tudo meio assustados, já que aquilo era bem diferente do que se esperava de um disco dos Beach Boys.

Wouldn't It Be Nice


Pet Sounds nos deu super clássicos como a vibrante faixa de abertura “Wouldn’t it Be Nice” e a belíssima e etérea “God Only Knows”, canção que Paul McCartney confessou querer ter composto. Aliás, este álbum deu continuidade ao ciclo “toma lá dá cá” entre Beach Boys e Beatles. Estes se sentiram tão desafiados com a obra prima da banda americana que criaram o tão famigerado “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” em junho de 1967.

God Only Knows


Costumo dizer que comparar os Beatles com os Beach Boys é meio injusto, apesar das duas bandas estarem praticamente no mesmo nível musical. O grupo inglês tinha três compositores absolutamente geniais (John , Paul e George) e ainda um senhor produtor (George Martin) que tornava realidade qualquer idéia sonora maluca que eles tivessem. Pois bem, os Beach Boys tinham um único gênio, Brian Wilson, que compunha, arranjava, produzia tudo e carregava a banda nas costas. Se houvesse pelo menos dois Brians na banda, sei não... os Beatles estariam em apuros! Pet Sounds veio para mostrar que os Fab Four não eram os únicos capazes de fazer do disco uma arte fina e também não eram tão absolutos no reino da música pop!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Graceland



Este é um daqueles grandes artistas que ficam meio esquecidos pelo público, mesmo tendo uma carreira bem sucedida e repleta de sucessos. Paul Simon é, sem dúvida, um compositor genial. Se eu fizesse uma lista dos 10 maiores compositores da música popular no universo pop/rock com certeza ele estaria lá, junto com Dylan, Lennon, McCartney e outros. Melodista notável, também escreve letras criativas, belas e profundas, talvez fruto de sua formação em literatura inglesa.

A primeira metade dos anos 80 ele passava por um certo ostracismo até gravar o fabuloso disco “Graceland” em 1986. Este, pra mim, é o melhor disco daquela década. Melhor que “Thriller” (Michael Jackson), “Joshua Tree” (U2) e “Brothers in Arm” (Dire Straits) juntos. Neste trabalho fantástico, ele mergulhou na música sul africana, gravou com artistas da África do Sul, cuja musicalidade fundiu-se perfeitamente com a sonoridade e idéias de Simon. O album foi aclamado pela crítica, recebeu vários prêmios e rendeu longo prestígio ao músico. Desde seus trabalhos em dupla com Garfunkel nos anos 60, Simon não apresentava canções tão inspiradas.

Graceland apresenta um trabalho instrumental e arranjos primorosos, e uma ousadia que acabou dando a Simon um reconhecimento como compositor de world music. Um grande destaque na sonoridade do disco é o baixo fretless de Bakhiti Kumalo, que fez poesia com seu instrumento. Solos e frases que arrebatam qualquer ouvinte que não entenda nada sobre contrabaixo. Só por isso o disco já valeria à pena. Mas há muito mais em Graceland. As guitarras são um dos pontos altos da sonoridade africana presente no álbum, juntamente com as percussões e toda a concepção rítmica. Um grande trunfo do disco foram vocais africanos, principalmente a participação do estupendo grupo vocal Ladysmith Black Mambazo em duas faixas, “Diamonds on the Sole of Her Shoes” e “Homeless”. Esta última, que é uma obra prima, acabou se tornando um hino contra o Apartheid na África do Sul.

Homeless


O disco começa apenas com acordes de acordeom seguidos por uma explosão de percussão na primeira faixa “The Boy in the Bubble”. A segunda faixa é a belíssima e grandiosa “Graceland”, que traz baixo e guitarras em destaques. “You Know what I Know” parece uma “La Bamba” africana, com um ritmo que faz qualquer um pular, e mais uma vez baixo e guitarras “saltitantes” e um exótico vocal de fundo. O disco conta com um grande hit, “You Can Call Me All”, que com seu apelo pop estourou nas rádios e ganhou um videoclip com a engraçada participação de Chevy Chase. “Under African Skies”, linda de doer, apresenta um dueto vocal de Simon e Linda Ronstatd.

You Can Call Me All


Apesar da sonoridade típica norte-americana dos anos 80, Graceland apresenta canções universais e arranjos atemporais. O fato de Simon ter buscado o diálogo cultural com a África do Sul em meados daquela década foi de uma importância que transcende a área musical. Todos os olhos se voltaram para aquele continente e sua então realidade. Não foi à toa que o álbum abocanhou todos os prêmios possíveis. Então se você ainda não ouviu, não morra sem ouvir – várias vezes – esta obra prima.

The Boy in the Bubble