domingo, 8 de dezembro de 2013

40 anos de Band on The Run

Band on The Run é o quinto disco de Paul McCartney após a dissolução dos Beatles e o terceiro com sua banda Wings. É desses discos que merecem edições comemorativas, limitadas e aquelas frescuras que a indústria faz pra vender. É uma obra prima, concebida por um cara habituado a fazer obras primas desde os vinte anos de idade. O álbum completa agora 40 anos, e é uma ótima oportunidade rememorá-lo e até apresentá-lo a quem ainda não conhece. Com os Beatles encerrando suas atividades oficialmente em 1970, cada um tomou seu rumo com punhados de canções acumuladas e agora com espaço e liberdade total pra fazer o que quisesse sem depender um do outro. George e John não demoraram pra mostrar serviço e logo gravaram álbuns mitológicos. O primeiro lançou All Things Must Pass em 1970, o outro lançou Imagine em 1971. Com esses dois discos os caras mostravam que estavam afiados e que já tinham superado o “rompimento”. Paul vinha produzindo muito, em quase quatro anos já tinha quatro discos nas costas, mas nenhum expressivo como os de seus ex-colegas. O compositor de "Yesterday", "Eleanor Rigby", "Penny Lane" e que tinha concebido as ideias para o intocável Sgt. Peppers ainda não tinha mostrado sozinho nenhum trabalho de ‘responsa’ para o público.

 Até então Paul já tinha experimentado algum sucesso desde o fim dos Beatles, com as canções “Maybe I’m Amazed”, “Another Day”, “My Love” e “Live and Let Die” (canção tema no filme “007-Viva e deixe Morrer”), mas finalmente no finalzinho de 1973 ele lançou um disco digno de um ex-beatle: Band on The Run. Seu primeiro grande álbum em carreira solo, uma década depois de lançado o primeiro álbum dos Beatles, Please Please Me.


Band on the Run é cercado de histórias inusitadas e até boatos. Pra começar, dois integrantes da Wings (a banda de Paul na época) pularam fora do projeto às vésperas das gravações. A banda resolveu gravar na Nigéria, procurando inspiração e “ares diferentes”. Só que o mar lá não estava pra peixe. O país vivia uma ditadura militar e tempos de muita instabilidade social. Pra piorar, o estúdio em que eles foram gravar estava em péssimas condições e faltava quase tudo. Ainda foram assaltados enquanto caminhavam numa noite e levaram-lhe fitas com as demos das músicas que ainda ia gravar. Houve ainda rumores não confirmados de que Paul teria sofrido um ataque cardíaco durante esse período. A banda também foi acusada de estar na Nigéria para “roubar” a música africana. Enfim, passaram por poucas e boas. Mas de todas essas confusões nasceu um clássico obrigatório para qualquer coleção.

 A faixa título é a que abre o disco com uma frase de guitarra seguida por sintetizadores e parece uma pequena suíte que se desenvolve num crescendo contagiante enquanto nos narra a saga de uma tal “banda em fuga”. Logo em seguida entra “Jet”, um rock vigoroso com direito a vocais no estilo Beach Boys durante o refrão. Quebrando o clima, a terceira faixa “Bluebird” mostra – ‘pra variar’ – que Paul é um dos maiores melodistas da música popular mundial. “Mrs Vandebilt” leva qualquer multidão a gritar em uníssono “Ho hey ho!” mesmo depois de terminada a música. A bela “Let me roll it” parece ser irmã de “Oh Darling”, (canção gravada ainda com os Beatles 4 anos antes). Uma curiosidade acerca de “Picasso’s Last Words”: O ator Dustin Hoffman jantava com Paul, e teria lhe perguntado se ele era capaz de compor uma canção sobre qualquer assunto. Não convencido com a resposta afirmativa do músico, Hoffman pegou uma revista onde havia uma matéria sobre a morte do pintor Pablo Picasso e mostrou a Paul, que imediatamente compôs a música em sua frente. A história tem variações, mas serve pra ilustrar a usina de canções que é o ex-beatle. 

Na capa do disco figuram alguns amigos convidados: os atores Christopher Lee e James Coburn, o colunista Clement Freud (neto do famoso psicanalista) e o boxeador inglês John Conteh. Band on the Run ainda vibra, aquece, anima e nos deleita com o que Paul McCartney em sua melhor fase pode nos oferecer.

 

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