sexta-feira, 26 de setembro de 2014

45 anos de Abbey Road

Falar sobre a importância dos Beatles na música popular é quase que chover no molhado. Vez por outra a gente encontra um ou dois que dizem que não gostam, mas não são tantos a ponto de ofuscar a condição de unanimidade. Não é preciso dizer pela enésima vez que eles são certamente o maior acontecimento na história da música no século 20, e que ditaram a moda e o comportamento dos jovens nos anos 60, que revolucionaram a indústria fonográfica e do show business, que influenciaram 9 entre 10 artistas que surgiram depois deles, que lançaram sementes de vários subgêneros musicais que nasceram mais tarde, entre outras coisas.

O motivo dessas linhas é o aniversário de 45 anos do antológico disco Abbey Road neste mês. É um momento especialíssimo na história da música popular. Lançado em setembro de 1969, foi o canto do cisne dos Fab Four. O último disco da banda gravado em estúdio, embora o Let it Be tenha sido lançado poucos meses depois. Abbey Road é tido por muitos como o melhor disco deles, embora não haja um consenso (opiniões se dividem entre Rubber Soul, Revolver, Stg Pepper’s, o “Album Branco” e o homenageado aqui nesse texto). Ou seja, a obra dos caras é quase irretocável, principalmente a partir do Rubber Soul, de 1965. Abbey Road é um disco memorável pela qualidade técnica e musical. Todos eles estavam com a criatividade a todo vapor. Foi uma espécie de trégua, se considerarmos que o clima não era nada bom entre eles, o desgaste entre os membros, a guerra de egos, os interesses extra-banda e as pressões externas marcaram os últimos anos do grupo. Interessante notar que mesmo em meio a todas as turbulências eles conseguiram produzir obras primas. Segundo Geofrey Stokes no livro The Beatles, “Tirando partido do momento, Paul reuniu-os no estúdio novamente. Dessa vez Abbey Road foi gravado mais rapidamente que qualquer outro álbum desde Help!, de 1965, e o conjunto inteiro tocava na maioria das faixas, além de os vocais serem feitos pelas vozes de todos, ao invés de um só gravando em diversos canais.” Sobre o disco anterior apelidado de “Album Branco”, de 1968, John Lennon disse que “ali não há nada de música dos Beatles.(...) É sempre John e a Banda, Paul e a banda, George e a Banda...” Abbey Road foi um curto momento de paz onde eles voltaram a ser uma banda, mais que isso, voltaram a ser os Beatles em ação.



O álbum já ficaria marcado pela famosa capa, com a foto dos quatro em fila, atravessando a rua que leva o nome do disco, e que é também o nome do lendário estúdio de onde saíram todos os seus discos. A faixa que abre é Come Together, uma canção típica de Lennon, que começa com uma linha de contrabaixo que depois seria sampleado em centenas de outras músicas mundo afora. Vale lembrar que a essa altura praticamente já não existia mais a parceria entre John e Paul. Cada um compunha seu material, embora sempre assinassem tudo como parceiros. Curiosamente, os maiores hits do álbum não são da dupla Lennon/McCartney e sim do então inspiradíssimo George Harrison. Estamos falando de Something e Here Comes the Sun. Também está nesse álbum o lado B mais espetacular do rock. A partir da terceira faixa (nona faixa, considerando o cd) começa um vertiginoso duelo entre John e Paul, uma maratona de pequenas músicas emendadas culminando com The End (título bem sugestivo, já que a banda estava prestes a encerrar as atividades).

Mas, ainda segundo Geofrey Stokes, os fãs pareciam menos preocupados com o fim dos Beatles que com a “morte” de Paul. O rumor parece ter começado em Detroit, onde uma estação de rádio deu força à história, e onde o Michigan Daily fez um “obituário” sobre Abbey Road. Sobravam pistas: na foto da capa Paul está descalço e fora do passo em relação aos outros, seu cigarro está na “mão errada” (ele é canhoto), e a placa do Wolkswagen estacionado é 28IF (“28SE”) – a idade de Paul “se” ele estivesse vivo. Segundo a lenda ele teria morrido num trágico acidente automobilístico em 1966, época em que eles decidiram parar com os shows ao vivo e se dedicar aos discos no estúdio. Isso foi apenas o começo dos boatos. Depois começou uma enchurrada de supostas pistas em letras de músicas e em outras capas. Entretanto Paul estava – e está – muito vivo.

Ouvir o Abbey Road hoje dá a uma forte sensação de que o disco ainda vai ser lançado daqui a 40 anos por uma grande banda que ainda vai surgir. É atemporal. O talento dos compositores nesta obra prima convence de que após 45 anos nada os superou.


Fábio Eça


Quer ouvir o disco??


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