Falar
sobre a importância dos Beatles na música popular é quase que chover no
molhado. Vez por outra a gente encontra um ou dois que dizem que não gostam,
mas não são tantos a ponto de ofuscar a condição de unanimidade. Não é preciso
dizer pela enésima vez que eles são certamente o maior acontecimento na
história da música no século 20, e que ditaram a moda e o comportamento dos
jovens nos anos 60, que revolucionaram a indústria fonográfica e do show business, que influenciaram 9 entre
10 artistas que surgiram depois deles, que lançaram sementes de vários
subgêneros musicais que nasceram mais tarde, entre outras coisas.
O
motivo dessas linhas é o aniversário de 45 anos do antológico disco Abbey Road neste mês. É um momento
especialíssimo na história da música popular. Lançado em setembro de 1969, foi
o canto do cisne dos Fab Four. O último disco da banda gravado em estúdio,
embora o Let it Be tenha sido lançado poucos meses depois. Abbey Road é tido por muitos como o melhor disco deles, embora não
haja um consenso (opiniões se dividem entre Rubber
Soul, Revolver, Stg Pepper’s, o “Album Branco” e o homenageado aqui nesse texto). Ou seja, a obra
dos caras é quase irretocável, principalmente a partir do Rubber Soul, de 1965. Abbey
Road é um disco memorável pela qualidade técnica e musical. Todos eles
estavam com a criatividade a todo vapor. Foi uma espécie de trégua, se
considerarmos que o clima não era nada bom entre eles, o desgaste entre os
membros, a guerra de egos, os interesses extra-banda e as pressões externas
marcaram os últimos anos do grupo. Interessante notar que mesmo em meio a todas
as turbulências eles conseguiram produzir obras primas. Segundo Geofrey Stokes
no livro The Beatles, “Tirando partido do momento, Paul reuniu-os no estúdio
novamente. Dessa vez Abbey Road foi
gravado mais rapidamente que qualquer outro álbum desde Help!, de 1965, e o
conjunto inteiro tocava na maioria das faixas, além de os vocais serem feitos
pelas vozes de todos, ao invés de um só gravando em diversos canais.” Sobre o disco anterior apelidado de
“Album Branco”, de 1968, John Lennon disse que “ali não há nada de música dos
Beatles.(...) É sempre John e a Banda, Paul e a banda, George e a Banda...” Abbey Road foi um curto momento de paz
onde eles voltaram a ser uma banda, mais que isso, voltaram a ser os Beatles em
ação.
O
álbum já ficaria marcado pela famosa capa, com a foto dos quatro em fila,
atravessando a rua que leva o nome do disco, e que é também o nome do lendário
estúdio de onde saíram todos os seus discos. A faixa que abre é Come Together, uma canção típica de
Lennon, que começa com uma linha de contrabaixo que depois seria sampleado em
centenas de outras músicas mundo afora. Vale lembrar que a essa altura
praticamente já não existia mais a parceria entre John e Paul. Cada um compunha
seu material, embora sempre assinassem tudo como parceiros. Curiosamente, os
maiores hits do álbum não são da dupla Lennon/McCartney e sim do então
inspiradíssimo George Harrison. Estamos falando de Something e Here Comes the
Sun. Também está nesse álbum o lado B mais espetacular do rock. A partir da
terceira faixa (nona faixa, considerando o cd) começa um vertiginoso duelo
entre John e Paul, uma maratona de pequenas músicas emendadas culminando com The End (título bem sugestivo, já que a
banda estava prestes a encerrar as atividades).
Mas,
ainda segundo Geofrey Stokes, os fãs pareciam menos preocupados com o fim dos
Beatles que com a “morte” de Paul. O rumor parece ter começado em Detroit, onde
uma estação de rádio deu força à história, e onde o Michigan Daily fez um “obituário” sobre Abbey Road. Sobravam pistas: na foto da capa Paul está descalço e
fora do passo em relação aos outros, seu cigarro está na “mão errada” (ele é
canhoto), e a placa do Wolkswagen estacionado é 28IF (“28SE”) – a idade de Paul
“se” ele estivesse vivo. Segundo a lenda ele teria morrido num trágico acidente
automobilístico em 1966, época em que eles decidiram parar com os shows ao vivo
e se dedicar aos discos no estúdio. Isso foi apenas o começo dos boatos. Depois
começou uma enchurrada de supostas pistas em letras de músicas e em outras
capas. Entretanto Paul estava – e está – muito vivo.
Ouvir
o Abbey Road hoje dá a uma forte
sensação de que o disco ainda vai ser lançado daqui a 40 anos por uma grande
banda que ainda vai surgir. É atemporal. O talento dos compositores nesta obra
prima convence de que após 45 anos nada os superou.
Fábio
Eça
Quer ouvir o disco??
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