domingo, 19 de junho de 2016

Blackbird e o Assum Preto


“Blackbird” é o primo distante do “Assum Preto”. O primeiro tem os olhos fundos (“take your sunken eyes and learn to see”). O outro tem os olhos furados (“furaro os óio do Assum Preto”). As coisas não parecem boas para ambos. Paul McCartney compôs “Blackbird” em 1968 pensando nos conflitos raciais nos EUA, traduzindo o esforço dos negros, que começavam a se impor, e usou a imagem de um pássaro (um melro preto) com olhos fundos e asas quebradas tentando voar. A letra era um estímulo especialmente às mulheres negras oprimidas. Os negros naquela época ainda eram muito segregados lá, sofriam abusos e ainda viviam num verdadeiro “cativeiro” racial. O “Assum Preto” de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, mesmo solto vivia no cativeiro da escuridão, com os olhos furados para “cantar melhor”, vítima também da maldade humana (“tarvez por ignorança ou mardade das pió”) . O termo “blackbird” era usado nos EUA de forma pejorativa na época do mercado de escravos para se referir a pessoas de origem africana. E os escravos, presos, na labuta da lavoura cantavam aquilo que ficaria conhecido como “work songs” desdobrando-se nos “negro spirituals”. Presos, mutilados, cantando de dor e na dor.


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